MPF determina suspensão imediata da retirada de trilhos no RS e reacende debate sobre renovação da concessão da Rumo

Por Ferrofrente – Frente Nacional pela Volta das Ferrovias

O cenário ferroviário do Rio Grande do Sul voltou ao centro das atenções após o Ministério Público Federal (MPF) determinar que a Rumo suspenda imediatamente a retirada de trilhos, equipamentos e estruturas da malha ferroviária gaúcha. A medida, classificada pelos procuradores como uma verdadeira “canibalização” do patrimônio público, ocorre em meio às discussões sobre a proposta de renovação antecipada da concessão da Malha Sul por mais 30 anos — proposta que vem recebendo duras críticas de autoridades, entidades e especialistas da região.

MPF alerta para risco ao patrimônio público e à segurança ferroviária

O MPF afirma que a retirada de trilhos e materiais está sendo realizada ainda dentro da vigência do contrato atual da Rumo, que somente se encerra em 2027. Segundo os procuradores, a desmontagem coloca em risco a integridade da malha, favorece furtos, ocupações irregulares e acelera o processo de abandono de trechos já fragilizados ao longo dos anos.

A recomendação do órgão exige que a empresa e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) apresentem, em até dez dias, um relatório detalhado com os trechos afetados e as justificativas técnicas para cada retirada. Caso as explicações não sejam consideradas suficientes, o MPF já sinalizou a possibilidade de adotar medidas judiciais.

Pressão de entidades e reação política no Sul

A mobilização contra a prática da Rumo não se restringiu ao MPF. Entidades empresariais do Rio Grande do Sul, como a Federasul, denunciaram a retirada de equipamentos e classificaram a situação como prejudicial à competitividade econômica do estado.

Paralelamente, lideranças políticas gaúchas vêm se manifestando de forma contundente. O vice-governador do RS chamou a proposta de renovação antecipada da Rumo de “desastre anunciado” caso não haja garantias efetivas de investimentos e de retomada de trechos estratégicos. A preocupação de gestores estaduais e municipais é que a concessão continue priorizando somente segmentos lucrativos, em detrimento da reconstrução e reativação de corredores ferroviários essenciais para a economia regional.

Rumo apresenta proposta de renovação por 30 anos, mas modelo é contestado

Em meio às denúncias, a Rumo formalizou ao governo federal uma proposta de renovação da concessão por mais 30 anos, prometendo investir R$ 10 bilhões nos estados do Sul — sendo cerca de R$ 2,5 bilhões destinados especificamente ao Rio Grande do Sul.

A empresa afirma que parte dos investimentos seria voltada à recuperação do trecho operacional entre Cruz Alta e Rio Grande, incluindo substituição de trilhos, aquisição de locomotivas e vagões, além de modernizações. A Rumo também sustenta que a realocação de materiais é autorizada pela ANTT e integra estratégia de priorização de trechos já em operação.

Ainda assim, governos estaduais, parlamentares e especialistas questionam a ausência de um plano claro que contemple a reconstituição da malha histórica, hoje reduzida a pouco mais de 900 km funcionais — resultado de décadas de abandono e de um modelo de concessão considerado falho por diversos setores da sociedade.

Uma malha reduzida e um futuro em disputa

O debate expõe um problema estrutural: o Rio Grande do Sul já perdeu mais de dois terços de sua malha ferroviária original. Muitos trechos foram sucateados, abandonados ou permanecem sem operação há anos — situação agravada pelas enchentes de 2024, que danificaram seções inteiras da infraestrutura.

Para entidades defensoras da ferrovia — entre elas a Ferrofrente — o momento exige um debate público robusto, com participação social, transparência e controle rigoroso sobre o modelo de concessões. A retirada de trilhos em plena vigência contratual e a proposta de renovação antecipada sem contrapartidas sólidas reforçam a urgência de um novo marco para o setor ferroviário no Sul e no Brasil.

Fontes consultadas:
– Matéria da GZH sobre a recomendação do MPF para que a Rumo suspenda a retirada de trilhos no RS.
Vídeo curto amplamente divulgado nas redes, mostrando trilhos sendo retirados.
Reportagens de veículos do Sul do país sobre a proposta da Rumo de renovar a concessão ferroviária por mais 30 anos e as críticas de autoridades, entidades e especialistas.

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Email