Intermodalidade pode reduzir as emissões de GEE no transporte de cargas

José Manoel Ferreira Gonçalves, da FerroFrente, explica como a intermodalidade reduz as emissões de CO2 e os custos no transporte de cargas. Saiba mais!

PorRedação Intermodal Digital-29 de agosto, 2025

O transporte de cargas no Brasil depende majoritariamente do modal rodoviário, responsável por mais de 70% (em alguns casos, mais de 80%) da movimentação nacional, segundo dados levantados por José Manoel Ferreira Gonçalves, advogado, jornalista, presidente da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias (FerroFrente) e autor do livro Despoluindo sobre Trilhos

Essa concentração nas estradas representa um dos principais fatores de impacto ambiental no país, com alto consumo de diesel e grande emissão de gases de efeito estufa (GEE).

Gonçalves destaca que reduzir essas emissões é uma questão de urgência. Para ele, a intermodalidade – a integração inteligente de diferentes modais de transporte – é um dos caminhos mais eficazes para alinhar competitividade e sustentabilidade.

Para saber mais, continue a leitura e veja mais contribuições que o nosso entrevistado nos apresentou sobre o tema. Confira abaixo!

Tirando a carga das estradas: a importância da intermodalidade

Segundo o Gonçalves, apostar na intermodalidade significa aliviar a pressão sobre as rodovias. Ele explica que essa prática “contribui de forma decisiva para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, porque tira a carga da enorme dependência que temos do modal rodoviário.

Ao comparar o transporte rodoviário com o ferroviário, por exemplo, o especialista comenta que cada vagão equivale a cerca de três caminhões. 

“Agora, imagine uma composição robusta de um trem — quantos caminhões deixam de circular?”, reflete o presidente da FerroFrente.

Ele reforça que a mudança não é apenas aritmética, mas também estrutural: caminhões atuam em trechos menores, conectando a origem aos centros logísticos, e dali a carga segue por ferrovia ou hidrovia até seu destino.

Nas palavras do especialista: “Isso reduz emissões, melhora a segurança nas estradas, diminui acidentes e ainda humaniza o transporte, porque não é razoável exigir que caminhoneiros façam longos percursos em rodovias sem estrutura adequada para descanso e higiene”.

Modais mais vantajosos e a combinação ideal

Na avaliação de Gonçalves, as hidrovias e as ferrovias são os modais mais vantajosos sob a ótica ambiental, integrados ao rodoviário para percursos curtos e, em alguns casos, ao dutoviário.

Ele elucida que: “Até o transporte aéreo pode ter papel em situações específicas. O mais importante é planejar conforme a carga e o destino: não é a mesma lógica transportar grãos do agronegócio para exportação ou produtos industrializados para centros de consumo interno”.

Gonçalves ainda complementa dizendo que: “O Brasil é continental e complexo, logo, precisamos combinar modais de forma inteligente para aproveitar o que cada um tem de melhor.”

Intermodalidade e o impacto imediato nos indicadores de carbono

Gonçalves explica que a substituição parcial do modal rodoviário por ferrovias e hidrovias impacta de forma imediata e mensurável os indicadores ambientais e a pegada de carbono

“Trem e hidrovia emitem muito menos gases de efeito estufa por tonelada-quilômetro que o caminhão. O trem consome cerca de 71% menos diesel para transportar a mesma carga; o hidroviário, menos ainda”, pontua o especialista.

Em outras palavras, podemos dizer que esse ganho significa menos CO2 na atmosfera, redução de poluentes locais e maior eficiência energética.

Barreiras estruturais a superar em soluções intermodais

Apesar do potencial, Gonçalves alerta que ainda há desafios para a implementação da intermodalidade no Brasil. Entre eles, o especialista destaca:

Monopólio privado no setor ferroviário

“Passamos do monopólio estatal para um controle concentrado nas mãos de poucas empresas, que usam as ferrovias segundo os seus próprios interesses”, critica o presidente da FerroFrente.

Ausência de planejamento nacional

Na visão de Gonçalves, falta uma estratégia clara que defina centros de concentração e distribuição, integrando modais de forma eficiente.

Ele acredita que esse planejamento é algo de interesse nacional e deveria envolver organizações públicas e privadas, assim como as comunidades como um todo. 

Desconhecimento da sociedade

“O brasileiro gosta de trem, mas muitas vezes desconhece o potencial que ele tem para reduzir custos, emissões e melhorar a vida de todos”, sinaliza Gonçalves.

Sendo assim, é importante conscientizar as pessoas, principalmente os profissionais e empresários da logística, a investirem ou cobrar investimentos em intermodalidade.

Indicadores que comprovam a eficiência

No livro Despoluindo sobre Trilhos, Gonçalves apresenta métricas comparativas que evidenciam os benefícios da ferrovia. 

De acordo com ele, para transportar 25 toneladas por 1.000 km, um caminhão consome cerca de 1.000 litros de diesel. Um trem realiza o mesmo percurso com apenas 290 litros.

“Como cada litro queimado emite cerca de 4 kg de CO2, essa diferença significa 2,8 toneladas a menos de CO2 emitidas por viagem”, compara o estudioso.

O papel da digitalização na intermodalidade

A tecnologia também deve integrar a agenda da logística sustentável. Segundo Gonçalves, deve-se trazer ciência e tecnologia para dentro do transporte intermodal. 

Ele explica que: “Com sistemas integrados, conseguimos otimizar rotas, reduzir percursos desnecessários, evitar desperdício de combustível, diminuir riscos e encurtar o tempo de transporte”. 

As falas de José Manoel Ferreira Gonçalves reforçam que o futuro da logística brasileira precisa passar pela intermodalidade. 

Cada tonelada transportada por trilhos ou rios representa menos diesel queimado, menos CO2 na atmosfera e uma logística mais eficiente, segura e humana.

José Manoel Ferreira Gonçalves é Engenheiro Civil, Advogado, Jornalista, Cientista Político e Escritor. Pós doutorado em Sustentabilidade e Transportes pela Universidade de Lisboa, Portugal; Engenheiro Civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Jornalista formado pela Faculdade de Comunicação Social Casper Líbero; Bacharel em Direito pela Universidade Santa Cecília; e Cientista Político pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo; Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Metodista de Piracicaba; Mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Itajubá e Especialização em Geoprocessamento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É Membro da Academia Mackenzista de Letras, ocupando a cadeira nº 13, cujo patrono é Christiano Stockler das Neves.
Fundador e presidente da ONG FerroFrente e da Associação Guarujá Viva, José Manoel é um defensor das ferrovias e do desenvolvimento sustentável. Desenvolveu o Portal SOS Planeta e integra conselhos voltados à engenharia e mobilidade urbana focada na democracia e sustentabilidade.
Autor de 16 livros, José Manoel tem publicações abrangendo suas especialidades, incluindo o papel das ferrovias no sistema de transportes e crônicas sobre a política do Guarujá. Atuou como professor, reportou para a Jovem Pan e desempenhou papéis relevantes na UNIP, Secretaria Estadual do Meio Ambiente e entidades de engenharia, arquitetura e agronomia, reforçando seu compromisso com a educação e o meio ambiente.

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