Primeiro trem partiu de Rio Claro e foi recepcionado por autoridades e pela população com festividade, bandeirolas e discursos; conheça a história
acidade on Araraquara – Às 16h de 18 de janeiro de 1885, Araraquara viu pela primeira vez uma locomotiva e seus vagões chegarem à estação. O feito, que inicialmente trouxe a possibilidade de escoar a produção para o porto de Santos e depois impulsionou o desenvolvimento da Morada do Sol, completou 140 anos no último sábado (18). Na oportunidade, o trem inaugural partiu de Rio Claro e foi recebido por autoridades e pela população com festividade, bandeirolas e discursos.
Apesar do cenário de efervescência política pró-República e do endividamento do Brasil imperial após a Guerra do Paraguai, a ferrovia se expandiu pelo interior do País por meio de concessões, devido à necessidade de escoamento da produção agrícola para exportação.
“O governo imperial vivia um momento conturbado, e é bom lembrar que a ferrovia chegou ao Brasil em 1854, com a inauguração por Dom Pedro II de 14 km em Petrópolis, no Rio de Janeiro. A partir daí, o país, um grande produtor de café, cana-de-açúcar e frutas, enfrentava dificuldades para escoar essa produção, especialmente para exportação”, contextualizou o jornalista e historiador Hamilton Mendes.
“Araraquara era uma cidade pequena na época da chegada da ferrovia, em 1885. No entanto, o território era extenso. A cidade era essencialmente agrícola, e o núcleo urbano era pequeno, pois a maioria da população morava nos sítios e fazendas, onde a vida acontecia. As pessoas produziam e permaneciam nesses locais, pois a locomoção era demorada, feita por carroção ou cavalo. Assim, o núcleo urbano era reduzido”, completou.Hamilton Mendes, jornalista e historiador
Na época, a Morada do Sol era bem localizada, e a chegada da linha férrea permitiu escoar uma considerável produção pecuária, de café, cana-de-açúcar, laranja e abacaxi até o porto de Santos, abastecendo mercados como Europa e Estados Unidos.
“A economia de Araraquara era forte na área de café e cana-de-açúcar, além da produção de frutas. Apesar das dificuldades logísticas, a produção era significativa. Já em 1830, os produtos eram levados por trilhas até Piracicaba, então chamada de Vila da Constituição, onde havia uma grande feira”, explicou.
“Quando Araraquara foi fundada, era freguesia da Vila da Constituição. A cidade era Itu, a vila era Piracicaba e aqui era um bairro. Em 1832, Araraquara foi elevada à categoria de vila, tornando-se independente de Piracicaba”, acrescentou.

Localizada a 45 km de Araraquara, São Carlos fez parte de seu território até 1865, segundo relatou o historiador. Nessa época, figuras importantes para o desenvolvimento da vizinha também foram protagonistas na região.
“Quem adquiriu o direito da Ferrovia Rio-Clarense foi o Conde do Pinhal, ex-vereador de Araraquara e um dos fundadores de São Carlos. Ele reuniu fazendeiros locais e autoridades e vendeu cotas da companhia, viabilizando a chegada da ferrovia”, disse.
“Com isso, inaugurou-se o tráfego provisório em Araraquara, e as lideranças começaram a organizar a logística para o escoamento da produção local. Anos depois, a companhia foi vendida, dando origem à Companhia Paulista, e os líderes políticos criaram a EFA (Estrada de Ferro Araraquara)”, relembrou.Hamilton Mendes, jornalista e historiador
Com a criação da EFA, Araraquara vivenciou um boom econômico, beneficiando os fazendeiros locais. “90% da produção de café, talvez até 100%, era exportada para a Europa e uma parte para os Estados Unidos. A cidade cresceu muito, e a ferrovia trouxe uma grande quantidade de recursos para os fazendeiros”, afirmou.
O investimento na ferrovia ajudou a desenvolver o interior de São Paulo, permitindo o escoamento da produção de municípios como Taquaritinga e São José do Rio Preto. Além dos fazendeiros, as primeiras lojas de departamento e concessionárias de veículos utilizaram os trens para despachar mercadorias adquiridas por clientes de outras regiões.

Após 140 anos da chegada da primeira composição, muita coisa mudou. Se antes havia investimento estatal na manutenção das linhas férreas, hoje o trecho pertencente ao Governo Federal está sob concessão da Rumo Logística.
No final do ano passado, o Governo Federal assinou um termo de compromisso de cessão da área ferroviária não operacional à Prefeitura de Araraquara. Esse foi o primeiro passo para transferir o antigo pátio de manobras à administração municipal.
A cidade foi a primeira beneficiada pela Lei de Ferrovias, aprovada em 2021, que prevê a cessão de trechos ferroviários não operacionais para obras de interesse público. Com o termo de cessão, a Prefeitura foi autorizada a utilizar a área para a construção de uma das quatro lagoas de retenção de enchentes previstas no projeto de recuperação dos canais da Via Expressa.
A obra, com investimento de R$ 143 milhões do Governo Federal, será dividida em três fases, com a primeira iniciada a partir da assinatura da ordem de serviço pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em maio de 2024.

Matéria espetacular publicada pelo jornalista Walter Strozzi Formado em Jornalismo pela Uniara (Universidade de Araraquara), Walter Strozzi é repórter no acidade on desde 2018. Anteriormente atuou na Tribuna Impressa, Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal e CBN Araraquara.