Monotrilhos paulistanos: nem ouro, nem prata, apenas mais uma barbaridade com o escasso dinheiro público

*José Manoel Ferreira Gonçalves

Apesar de chocarem pelas imagens, as colisões frontais de trens na Linha 15 do metrô que recentemente espantaram a população deverão se repetir em breve. E não se trata de alarmismo ou futurologia. Infelizmente, aos olhos dos especialistas, esses não foram e nem serão episódios inesperados em um projeto tão problemático quanto o monotrilho paulistano.

Há muito o que ser esclarecido, tanto na chamada linha prata, já em operação, quanto na depreciada linha ouro, prometida para a Copa do Mundo de 2014, mas que ainda hoje é apenas um monte inútil de concreto armado no horizonte, à espera de uma solução.  

Começando pela Linha 15, a chamada linha prata: ela está sob os cuidados do Metrô, mas a empresa não sabe operar monotrilho. Por força judicial, a concessionária privada ViaMobilidade/CCR está impedida de assumir a operação. Enquanto isso, o Metrô segue responsável pelo ramal e cometendo barbeiragens. Os laudos ainda serão concluídos, mas provavelmente o que se viu nas batidas dos trens foi o resultado de uma falha de sinalização.

É o caso de se instalar uma investigação baseada em observadores neutros, em paralelo à comissão de sindicância do próprio Metrô, que deve estar apurando os fatos. Uma perícia e auditoria completa seriam o mais indicado; do contrário, corre-se o risco de recair sobre os operadores toda a culpa sobre o ocorrido.

O caso da linha 17/ouro é ainda mais complexo. A construção do ramal se arrasta há mais de uma década. Agora, diante de novos e recorrentes atrasos, o governo estadual quer anular o contrato com o atual consórcio, que, aliás, nem havia sido o primeiro na licitação que definiu da última vez, em 2019, quem seria o responsável pela operação.

De maneira otimista, o Palácio dos Bandeirantes estima que as obras dal linha ouro possam estar concluídas até o final do próximo ano. Melhor seria que o projeto fosse esmiuçado, a fim de se ajustar o curso e, principalmente, atribuir responsabilidades ao mau uso dos recursos públicos ao longo de todos esses anos.

Ferrofrente, Frente Nacional pela Volta das Ferrovias, já solicitou na Justiça a abertura da caixa preta da linha ouro. Até aqui, pagamos muito e recebemos pouco. Diante desse cenário, precisamos verificar em minúcias os documentos, livros e registros, fazer inspeções, obter informações e confirmações internas e externas, a partir de um inquérito civil, que conte com o exame de especialistas.

Os custos dessa perícia são irrelevantes diante das enormes perdas que o povo de São Paulo está sofrendo desde que o monotrilho da linha ouro se transformou em um elefante branco. E agora precisamos investigar também a linha prata, que se tornou um novo pesadelo para quem depende do transporte público na maior metrópole de nosso continente.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é engenheiro e presidente da Ferrofrente, Frente Nacional pela Volta das Ferrovias.

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