Prefácio, por Dimmi Amora
A transição de um sistema de monopólio estatal para um sistema privado é complexa em qualquer lugar ou tipo de serviço. De um lado, há a natural tentativa do novo prestador de tentar manter o sistema monopolizado, em benefício de uma racionalidade econômica própria.
Por outro, o governo demora a entender seu papel de árbitro nos conflitos entre privados, clientes e prestadores, e de garantidor da segurança necessária para que os investimentos no setor prossigam e, com eles, a melhoria da qualidade.
No setor ferroviário brasileiro, a complexidade da transição tem o que se pode considerar o grau máximo. Diferentes atores, todos de porte pesado, disputam sobre a melhor maneira de funcionamento de um sistema que traz consigo uma difícil herança de defasagem por quase um século de baixos investimentos no setor.
A defasagem de infraestrutura e tecnológica faz com que também tenhamos baixa capacidade para debater os temas relevantes do setor. Faltam estudos qualificados, levantamento de dados, pesquisa nas quantidades necessárias para uma boa tomada de decisão por parte dos agentes.
Ferrovia Essencial chega para ajudar a fomentar um necessário pro- cesso no Brasil de qualificação do debate sobre o tema ferroviário. Seu intuito é formar cidadãos mais conscientes sobre o funcionamento da logística no país e os benefícios que decisões corretas e racionais podem trazer a todos, quando direcionadas ao bem comum.
Num país de grande extensão territorial que vê como cada vez mais necessária a interiorização do seu desenvolvimento, o papel da ferrovia será primordial. Para isso, ela terá que atender a uma configuração diferente da atual, tornando-se instrumento de integração.
Nesse contexto, a obra apresenta a ferrovia como mais que uma prestadora de serviço de transportes, pensando-a como instrumento para o crescimento sócio, ambiental e economicamente sustentável.
Nada no sistema ferroviário é barato, rápido ou simples. Investimentos em ferrovia sem planejamento derrubam impérios econômicos no mundo todo. Portanto, será de grande valia fomentar estudos independentes, profundos e rotineiros sobre o tema. Sem isso, vamos continuar parados na mesma estação.
Dimmi Amora, jornalista, é editor-chefe da Agência iNFRA